A possível fabricação do Raspberry Pi no
Brasil pode baratear o preço do computador no país, que atualmente é
vendido por R$ 189.
Eben Upton, diretor-executivo do Raspberry Pi Foundation, que
desenvolveu o computador mais barato do mundo, o Raspberry Pi, está
estudando abrir uma fábrica no Brasil para baratear o preço do produto
no país.
O RasberryPi é vendido por US$ 35 (R$ 78) no Reino Unido, mas chega ao Brasil custando US$ 85, cerca de R$ 189.
‘As taxas de importação do Brasil são quase proibitivas’, diz ele em entrevista à BBC Brasil.
‘Por isso, se conseguirmos produzir o Pi por lá, tornaremos o produto
muito mais acessível e poderemos também facilitar a distribuição para
toda a América Latina,’ acrescentando que considera a região um mercado
prioritário.
Sem fornecer números precisos, Upton disse que atualmente vende
‘algumas milhares’ de unidades do computador no Brasil, o que ele
considera pouco diante do tamanho da população, renda média e
‘entusiasmo dos brasileiros por tecnologia.’
Ele afirma que ainda está no estágio de reconhecimento do mercado e
que ainda não negociou com possíveis parceiros a fabricação do Pi no
Brasil.
Surpreendente demanda
O Raspberry PI é um computador de uma placa só, com circuitos e
componentes, da dimensão de um cartão de crédito, que não possui nenhum
tipo de teclado, mouse, ou monitor. Mas apesar de seu tamanho, é um
sucesso de vendas para a organização sem fins lucrativos que o criou.
Segundo Upton, a ideia principal por trás do Raspberry Pi é fomentar a
educação. ‘Não estamos produzindo engenheiros de computação suficiente
no Reino Unido, ou no planeta. Por isso pensamos que poderíamos criar um
novo dispositivo para produzir uma nova geração de entusiastas de
programação,’ disse Upton em entrevista à BBC Mundo.
O Pi, como é carinhosamente conhecido, tem um sistema operacional
baseado em Linux, que pode ser trocado por outro software de código
aberto.
‘Até pouco antes do lançamento, nossa ambição era vender mil
unidades,’ disse Upton. ‘Mas logo antes de lançar, suspeitamos que não
seria suficiente, e que teríamos uma demanda maior do que esperávamos.’
O maior problema da organização era que eles não estavam preparados
para atender uma grande demanda, nem teriam a capacidade de fabricar
milhões de unidades em pouco tempo.
‘Nós somos uma organização de caridade, não temos muito dinheiro. Não
podemos pegar investimento privado, nem vender ações na bolsa de
valores’, diz Upton. ‘Por isso mudamos o modelo operacional e nos
tornamos uma empresa que licencia o uso da criação.’
Assim, com parceiros a bordo, o projeto foi capaz de receber uma boa
notícia: 100 mil unidades vendidas no primeiro dia de lançamento, 29 de
fevereiro de 2012, e mais de um milhão até o momento. Curiosamente,
contou o fundador, 70% das vendas foram fora do Reino Unido,
principalmente nos Estados Unidos.
Duas coisas surpreenderam Upton desde o lançamento do aparelho. Uma
deles é o fato de que as pessoas estão usando o Raspberry Pi como uma
parte central de novos equipamentos, principalmente de robôs. ‘Achávamos
que as inovações viriam mais do lado de software.’
A segunda surpresa foi que, apesar de ter sido criado pensando na
educação de jovens e crianças, outras pessoas estão usando o computador.
‘Pessoas estão se juntando e estão fazendo coisas muito engraçadas com
ele’.
‘Isso pode ser explicado porque, no Reino Unido, há uma longa
tradição de ver a computação como algo divertido, algo que você pode
usar para inovar e criar coisas incríveis’, concluiu Upton.
Escolas
Seu projeto para levar o Raspberry Pi às escolas também está
progredindo. O escritório do Google no Reino Unido, por exemplo,
concedeu um subsídio de US$ 1 milhão para distribuir o dispositivo em
milhares de escolas.
Ao contrário do projeto One Laptop Per Child (‘Um computador por
criança’ em tradução livre), criado por duas ONGs americanas para
supervisionar a facilitação de dispositivos educacionais para países em
desenvolvimento, o Raspberry não trabalha com governos, mas com as
comunidades e escolas que vêm a eles, criando uma rede de entusiastas
que acreditam no produto.
Upton diz que o software da placa é atualizado em média a cada dois
meses e que não haverá uma nova versão do computador nos próximos dois
anos. ‘Não queremos que as pessoas invistam dinheiro e esforços em um
produto que irá expirar em breve. Ainda há espaço suficiente para
crescer com o modelo atual, e desafios para serem superados.’
Ao nomear sua criação como Raspberry Pi (ou ‘Framboesa Pi’ em
português), os fundadores buscaram continuar a tradição de empresas de
informática que usam frutas como um nome, como Apple (Maçã) e BlackBerry
(Amora).
‘Raspberry (framboesa) parecia uma fruta divertida, e projetava a
imagem que queríamos. E Pi (além de sua referência ao número) foi uma
homenagem à linguagem de programação Python, uma das mais educativas que
existe,’ explicou Upton.
‘Espero que em cinco anos ela se torne uma plataforma verdadeiramente
útil para que as pessoas façam o que quiser com ela. E espero que o
Raspberry Pi esteja presente em muitas casas em países em
desenvolvimento,’ concluiu Upton.